domingo, 17 de janeiro de 2016



Prática de Mindfulness
Experimente uma Prática de Mindfulness
Cuidados e Sugestões Antes de Iniciar
Alguns cuidados e orientações são importantes para quem pretende iniciar e manter uma prática meditativa ou de mindfulness:
  • De preferência, encontrar um lugar silencioso e com pouca ou nenhuma distração. Plugues de proteção sonora para os ouvidos podem ser utilizados em locais mais barulhentos;
  • Reservar tempo e espaço na agenda diária para a prática meditativa. Independente do tempo que se pretende praticar naquela sessão (5, 10, 15, 30 minutos, etc.), o uso de um despertador, que marque o fim da sessão, é recomendado para que o praticante evite ficar preocupado em olhar o relógio durante a prática;
  • Usar roupas confortáveis e adequadas para a temperatura do local. Lembrar que a temperatura corporal pode cair levemente durante a prática meditativa, assim o uso de um cobertor leve pode prevenir eventuais desconfortos;
  • Sentar ou deitar em posição que permita pouco ou nenhum desconforto durante o tempo de prática. O uso de colchonetes, travesseiros ou almofadas é recomendado. O pescoço deve estar em posição neutra e confortável. A coluna deve estar ereta quando sentado, com ombros alinhados, e mãos apoiadas nas pernas, para se evitar desconforto na cintura escapular;
  • Os olhos podem estar fechados ou abertos. Quando abertos, estes devem ficar relaxados, sem focagem específica;
  • Evitar refeições copiosas ou jejum muito prolongado antes das práticas;
  • Meditar por períodos menores no começo (5-10 minutos), aumentando o tempo da prática progressivamente, conforme possibilidades e necessidades de cada um;
  • Ser persistente e regular com as práticas meditativas, melhores benefícios e progressos virão com a prática diária e regular;
  • Meditar em grupos e/ou ter um instrutor qualificado pode ajudar na adesão e manutenção das práticas. O uso de meditações audio-guiadas podem ajudar também;
  • Escolher as técnicas e tipos de meditação que mais bem se adaptem às necessidades e preferências de cada um;
  • Ter em mente que algum desconforto, nas costas ou nas pernas, por exemplo, pode ocorrer no começo em iniciantes. Tentar achar uma posição mais confortável pode ajudar nesses casos;
  • Ter em mente que as práticas meditativas podem eventualmente trazer à tona estressores ou traumas preexistentes e/ou reprimidos, o apoio de um instrutor qualificado e/ou de um profissional da saúde é importante nessas situações.
IMPORTANTE: Apesar dos inúmeros benefícios e da simplicidade das técnicas meditativas, tanto profissionais quanto pacientes devem ter consciência de que as mesmas não substituem os tratamentos médicos e de outros profissionais da saúde. 
NÃO É RECOMENDADA a prática de mindfulness para pacientes em fase aguda de qualquer condição clínica, ou para pacientes com risco de crise dissociativa, tais como portadores de transtornos de personalidade, esquizofrenia, entre outros (a não ser que estejam em programas específicos para suas necessidades, e sob supervisão de um profissional experiente no tema). Sobre esse tema, leia também:  ¿PUEDE PRODUCIR LA MEDITACIÓN EFECTOS ADVERSOS?
PRÁTICA
ATENÇÃO PLENA NA RESPIRAÇÃO 
A seguir será apresentada uma técnica meditativa do tipo “mindfulness” que utiliza como âncora a própria respiração. É segura e de simples aplicação para a população geral e pacientes. Tendo como base os cuidados e orientações explicitados anteriormente, deve-se seguir os passos abaixo:
  1. Adotando uma posição confortável, sentado ou deitado, deixar o corpo se estabilizar na posição. Pode-se fazer uma ou duas respirações mais profundas para se trazer a atenção para o corpo, como também começar lentamente a observar as sensações no corpo naquele momento (contato do corpo com o chão ou cadeira; temperatura da pele, possíveis desconfortos, etc.);
  2. Gradualmente começar a trazer a atenção e a observação para os movimentos do corpo durante a respiração, como por exemplo os movimentos do tórax e do abdome na inspiração e expiração do ar; ou ainda a sensação do ar entrando e saindo pelas narinas durante a respiração. É importante seguir o fluxo natural da respiração, sem tentar alterá-lo, apenas observando-o;
  3. Mantenha então a observação da respiração como âncora da atenção e da mente no momento presente, momento a momento, a cada respiração;
  4. Eventualmente, se alguma distração, pensamento, sensação, ou preocupação vier à tona, gentil e simplesmente apenas perceba, e deixe passar, sem se prender ou julgar, voltando novamente a observação para a respiração;
  5. Antes de encerrar a sessão, traga novamente a atenção e a observação para as sensações em todo o corpo naquele momento, e lenta e gradualmente termine a prática.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016



Bauman ou o humanismo em estado puro
Zygmunt Bauman (1925 – )
Tantas pessoas capacitadas escrevendo sobre Bauman, debatendo suas ideias, comprando seus livros (mais de 300 mil foram vendidos só no Brasil), adotando seus conceitos sobre a fluidez que permeia as relações atuais, mas ele – com a lucidez de um sábio, como aqueles que moram em montanhas altíssimas – nem de longe se deixa cair nas armadilhas do autoelogio e continua, aos quase 90 anos, sendo um farol bem potente que ilumina os muitos abismos desse nosso ‘teatro’ pós- moderno. Mas porque suas ideias explicam de forma tão exata os muitos paradoxos nos quais nos envolvemos – quer queiramos, quer não – hoje em dia?
Já li tantos artigos (bons) sobre Bauman que quase desisti da ideia de escrever esse, mas como acredito no bem estar que a pluralidade de debates pode gerar resolvi levar adiante esse desejo, motivada, sobretudo, pela entrevista que ele concedeu recentemente ao jornalista Alberto Dines (do Observatório da Imprensa). Assistindo a conversa dos dois fiquei pensando em porque Bauman se tornou essa figura tão popular e querida tanto por intelectuais e acadêmicos, quanto por leitores que já passaram dessa etapa, mas buscam em seus textos explicações sobre os males pós-modernos (ou simplesmente os males humanos e atemporais que vão nos afligindo ao longo da vida).
Assim, impulsionada pelas falas de gente que o vê de uma maneira mais intelectualizada e/ou recoberto por seus certeiros conceitos sobre todas as grandes e pequenas aberrações que formam a tal pós-modernidade (termo que parece desagradar a muitos) tentei retirar dessa mistura algo que chamarei, de forma despretensiosa e limitada, de ‘essência humana’; algo que resplandece em suas reflexões e que talvez explique esse seu grande ‘sucesso’.
Sim, sei que sucesso é uma palavra que lembra coisas como celebridades, fama instantânea e alguns outros brilhos fugazes que envolvem tudo que é produzido pela indústria do entretenimento, mas Bauman está a anos luz disso tudo, pois é professor universitário e não celebridade ‘roliudiana’; ele e suas ideias, que ele mesmo nem acha assim tão contundentes – ao contrário de alguns pensadores semanais que vemos lançando ‘bombas’ sobre isso e aquilo e que desaparecem num instante –, ele e sua seriedade nada lisonjeira e bastante normal para um sociólogo que gosta do que faz e tenta, incansavelmente, apontar caminhos para quem tiver disposição de ouvir/ler seus muitos livros. (Quando pensamos, por exemplo, na onda do politicamente correto que parece ter recoberto tudo – até a arte, essa área que não deveria se curvar a tais limites – com uma espécie de cinza niveladora que transforma em porcaria tudo sobre o qual recai; vemos porque seu trabalho chegou em boa hora e é cada vez mais necessário: é que ele não tenta agradar ninguém e somente segue, destrinchando os bastidores desse nosso, farto em bizarrices, sistema social).
Sobre a tal ‘cinza niveladora’, ouso pensar até que ele talvez seja uma espécie de ‘guru’ que surgiu nessa fase do tempo infinito (tempo e não somente a pós-modernidade; tempo visto como um contínuo incessante que é sempre ilusório e que limita qualquer tentativa de reflexão mais elaborada porque condiciona nossos pensamentos/ações em qualquer ‘tempo’) como aquele que conseguiu ver no rastro de pó desse tempo, alguns detalhes que escaparam a outros pensadores e entre tais ‘detalhes’ lá estava a razão de tudo: o homem, esse ‘instrumento’ tantas vezes esquecido e ignorado por aqueles que analisam (como diz ele) o ‘gerenciamento do mundo’.
Acho que a capacidade de enxergar primeiramente ‘o humano’ é que transformou Bauman em pensador indispensável para esses nossos interessantes tempos, tempos, aliás, que ele afirma serem bênçãos para os ‘solidários e pensantes’ e péssimos para aqueles que não têm essas, digamos, virtudes. Li em algum lugar que alguns acham Bauman pessimista e talvez, saudosista, porque, por exemplo, não vê com bons olhos a onda tecnológica na qual estamos todos envolvidos e que transformou alguns de nós (até as crinças) em seres que só se entendem como humanos, quando conectados (ou seja, quando estão distantes da realidade real e imersos na virtual; bem louco isso, não?). Sua visão ácida do reino da alegria que é o facebook também já se tornou clichê, mas é importante notar que seu pensamento sobre as tais redes sociais continua tão pertinente que acabou sendo adotado por outros pensadores e no final, nós como usuários das tais redes, já percebemos (?) o quanto esse ambiente é quase sempre, carregado de hipocrisia (a nossa e a dos ‘outros’ logicamente). Mas eu penso é que cada um transfere para cá o que é ‘lá fora’, simples assim.
Sobre a velocidade das notícias Bauman (citando alguém) diz que somos ‘inundados por informação, mas famintos por sabedoria’: não sei quanto a vocês, mas me sinto exatamente assim desde que o avanço tecnológico que possibilitou a internet e todos os seus desdobramentos revolucionários foi ganhando corpo ali em meados do começo do século (e que estranho é escrever isso: começo do século).
O fato é que, tecnologicamente, avançamos de forma surpreendente: há 30 anos se um visionário europeu ou norte-americano (são sempre eles, não?) dissesse, por exemplo, numa entrevista ao ‘fantástico’ Fantástico (é que houve um tempo em que esse programa era melhorzinho e era somente o que havia) que algum dia haveria a possibilidade – via computador e telefone – de se falar com pessoas que estão fisicamente distantes certamente seria tachado de louco, para dizer o mínimo.
Pois avançamos: tantos estudos foram feitos por pessoas que nunca saberemos quem foram – porque quando se divulgam ‘coisas’ revolucionárias geralmente os nomes daqueles que trabalham nos bastidores não são destacados – tantas pesquisas meticulosas nos trouxeram a essa modernidade recheada de facilidades cotidianas tão sensacionais que deveríamos sermos todos agradecidos e legais uns com os outros, não é mesmo? (Mas então, porque será que não somos?)
Ah, mas se fôssemos assim tão legais, não usaríamos o face (nada mais que um tranquilizante cerebral, segundo Bauman) para mostrarmos nossas conquistas (estéticas, profissionais, acadêmicas, amorosas e etc.) publicamente, carentes que somos de afagos em nossos egos. Também seríamos altruístas e solidários, mas se assim fosse, viveríamos numa redoma utópica e o mundo seria tão perfeito e maravilhoso que talvez morrêssemos… de tédio…
Somos imperfeitos e andamos por um imenso, e até agora infindável, corredor de espelhos chamado ‘zona de conforto’ (segundo ele) e só nos envolvemos de verdade em algo, se estivermos bem confortáveis em nossas poltronas macias e vendo o caos no Oriente Médio ou em alguma periferia brasileira na tela da TV, do PC ou do celular. Nos tornamos sedentários mas certamente sairemos do sofá para comer ou ir de carro para algum lugar agradável; viajaremos para outros países mas veremos somente o que a indústria do turismo permitir (e isso tudo é uma crítica a mim mesma). No final, a pergunta que ecoa é: evoluímos tecnologicamente, mas e humanamente? Alguns poucos certamente conseguiram avançar, mas a grande maioria patina embasbacada (e alienada) pelas variadas facilidades que a pós-modernidade nos trouxe (que vão durar enquanto tivermos meio ambiente para sustentar tudo isso).
Sem me alongar mais – porque isso não tem nem terá fim – tentando não ser tão pessimista (mas obviamente, não conseguindo) convido você a assistir a entrevista de Bauman porque a mim me deixa muito feliz (de verdade) pensar que existe aqui entre nós uma pessoa como ele: disposta a observar o mundo por um viés que humaniza a ‘administração’ desse mundo e que procura desvendar os bastidores desse nosso sistema social sobretudo, com sensibilidade. Um estudioso que para além das estatísticas, enxerga pessoas; que consegue simplificar o entendimento das intrincadas relações humanas modernas propondo conceitos delicados e quase poéticos que traçam paralelos entre a fluidez e da água e a ‘liquidez’ das relações descompromissadas que vamos construindo.
Para terminar: acho que Bauman se tornou esse ‘farol’ porque por meio de suas abordagens amplas que, no entanto, permitem que enxerguemos todos os detalhes, faz com que a gente entenda os aspectos sórdidos do mundo – as desigualdades sociais, o desemprego, a miséria, os variados preconceitos, as nunca esclarecidas questões econômicas que geram tantas politicagens e mesquinharias e que aniquilam a vida de tantos – pois vemos tudo isso, de uma forma, é claro, desagradável; mas a sensibilidade de sua sociologia também mostra que este caos é, na verdade, bastante organizado. Ao mirar seu refletor para os cantos mais obscuros e longínquos do que se convencionou chamar ‘pós-modernidade’ ou esse espetáculo humano do qual somos autores, atores principais e coadjuvantes, figurantes, espectadores, maquiadores, produtores e etc. Zygmunt Bauman nos oferece a oportunidade da reflexão sobre o nosso desempenho e talvez seja possível ainda, revisar esse roteiro…Quem sabe?