segunda-feira, 14 de outubro de 2013


A PRECE DE UM JUIZ JUSTO
“Senhor! Eu sou o único ser na terra a quem Tu deste uma parcela da Tua Onipotência: o poder de condenar ou absorver meus semelhantes.
Diante de mim as pessoas se inclinam: à minha voz acorrem, minha palavra obedecem, ao meu mandado se entregam, ao meu gesto se unem, ou se separam, ou se despojam. Ao meu aceno as portas das prisões fecham-se às costas do condenado ou se lhe abrem, um dia para a liberdade.
O meu veredicto pode transformar a pobreza em abastança, e a riqueza em miséria. Da minha decisão depende o destino de muitas vidas. Sábios e ignorantes, ricos e pobres, homens e mulheres, os nascituros, as crianças, os jovens, os loucos e os moribundos, todos estão sujeitos, desde o nascimento até a morte, à Lei que eu represento e a Justiça que eu simbolizo.
Quão pesado e terrível é o fardo que pusestes nos meus ombros.
Ajudai-me Senhor! Fazes com que eu seja digno desta excelsa missão!
Que não me seduza a vaidade do cargo, não me invada o orgulho, não me atraia a tentação do mal, não me fascine as honrarias, não exalcem as glórias vãs...
Faz da minha toga um manto incorruptível. E da minha pena não o estilete que fere mas a seta que assinala a trajetória da Lei no caminho da justiça...
Que eu seja implacável com o erro, mas compreensivo com os que erram. Amigo da verdade e guia doa que procuram...Não permitas, jamais, que eu lave as mãos como Pilatos, diante do inocente, nem atire, como Herodes, sobre os ombros do oprimido, a túnica do opróbrio. Que eu não tema César e nem por temor dele pergunte ao poviléu, se eles preferem “Barrabás ou Jesus”... Ajuda-me Senhor!
Quando me atormentar a dúvida, ilumina o meu espírito: quando eu vacilar, alenta a minha alma: quando eu esmorecer, conforta-me: quando eu tropeçar ampare-me. E quando um dia, finalmente, eu sucumbir, e já então como réu comparecer à Tua Augusta Presença para o último juízo, olha compassivo para mim.
Dita, Senhor, a Tua sentença. Julga-me como um Deus.
Eu julguei como homem.”

Esta prece foi escrita pelo Doutor João Alfredo Medeiros Vieira, Juiz de Direito, nascido em Florianópolis SC em 1929 e ocupa a cadeira número 4 da ACL, e estava exercendo o cargo em Joaçaba SC quando escreveu esta prece em 1973. Foi imediatamente publicada pela prefeitura local e em seguida pelo jornal “O Lutador”, da cidade de Manhumirim MG. Ainda em 1973, por ocasião da comemoração do centenário do TJ de São Paulo foi “A Prece” oferecida, em opúsculo, a todos os Juizes daquele Estado. Hoje, “A Prece” está vertida, para cerca de 20 línguas, entre elas, além do inglês, o alemão, o italiano, o francês, o espanhol, em grego, húngaro, árabe, ucraniano, russo, finlandês, hebraico, polonês, o esperanto e outros mais.

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